terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

O Desafio das Pedras

Há mais ou menos um ano estive conversando com alguns amigos do Campinas Bike clube sobre a possibilidade de realizarmos um pedal pela região da Serra da Canastra, no Sul de Minas Gerais. A região é conhecida dos trilheiros de plantão pelas belíssimas serras e chapadas, cachoeiras e pelas nascentes de importantes rios, como o São Francisco.
Como na época não foi possível realizar tal pedal, a idéia ficou meio esquecida. O Marcelo e o Cristiano estiveram por lá um tempo depois, porém, devido as fortes chuvas não conseguiram conhecer todo o potencial da região.
Pois bem, como neste feriado estava com viagem marcada para a casa da minha mãe, que fica situada nesta região, decidi explorar algumas trilhas próximas à Barragem de Furnas, que pela proximidade a Serra da Canastra tem todos os ingredientes para um pedal legal.

Como não conheço nada da região, pedi auxílio ao meu primo Fernando e a um parceiro de trilha dele chamado Pardini. Ambos são funcionários de Furnas Centrais Elétricas e fazem enduro de moto na região.

Durante a semana que antecedeu minha viagem, o Pardini deixou com meu primo algumas imagens do Google Earth com os pontos de referência de uma trilha no entorno da Barragem demarcados.
Seria um pedal de mais ou menos 50 km, com nível de dificuldade médio.
Bike no carro, chegamos em Furnas no domingo, por volta das 9 horas da manhã. Minha esposa, filhas e minha mãe ficaram na casa de minha tia.

Eu e meu primo seguimos sentido ao inicio da trilha. Ele me acompanhou de moto nos primeiros 10 km a fim de explicar as referências dos mapas editados pelo Pardini e me mostrar algumas particularidades da região.


Trecho 1 – Passagem pela Barragem
Logo de início, seguimos sentido ao topo da Barragem de Furnas, afim de atravessar para a outra margem do Rio Grande.
Visual incrível da Hidroelétrica, do Rio e do reservatório. Depois da travessia por cima da Barragem, fizemos uma parada rápida no mirante da represa, afim de contemplar a paisagem e tirar algumas fotos.

Saindo do mirante, seguimos sentido travessia do Quebra Anzol. Descemos um trecho de single track até chegarmos às margens de um pequeno riacho, onde esta situado o camping Quebra Anzol. Vale mencionar que a região de Furnas encontramos em abundância um tipo de pedra conhecida como pedra mineira. Não preciso nem dizer como é difícil escalar e descer paredões composto com este tipo de pedra.
Para quem não conhece a pedra mineira, ela é muito utilizada em revestimento em bordas de piscinas.


Seguindo a travessia do Quebra Anzol, escalamos um pequeno trecho de "single tracks" em pedra e chegamos até a rodovia que daria acesso a outra trilha, que nos levaria até o Paraíso Perdido. Deste trecho em diante, meu primo Fernando me passou as ultimas orientações, desejou um bom pedal e retornou para Furnas.
Aos poucos a Barragem estava cada vez mais distante.


Trecho 2 – Paraíso Perdido
Seguindo pouco menos que um quilômetro pela rodovia, encontrei o acesso a trilha do Paraíso Perdido. A trilha na verdade é um estradão, margeado por plantações de cana e mata fechada em alguns trechos. Depois de alguns quilômetros de escaladas e descidas íngremes, cheguei a portaria da pousada Paraíso Perdido.
Antigamente esta região era de acesso livre a cachoeira que tem no local. Depois de alguns anos o proprietário da área resolveu construir uma pousada e camping e o acesso passou a ser controlado. Chegando nesta pousada, depois de mais ou menos 17 km rodados, decidi me informar com o pessoal de lá para saber se realmente estava na rota correta.
Segundo informações do pessoal da pousada, eu estava corretamente no roteiro traçado pelo Pardini, porém, eles me alertaram que pela dificuldade do terreno, provavelmente demoraria um bom tempo para completar o trajeto. Como a hora já estava adiantada e eu não tinha levado suprimentos, decidi aceitar a sugestão deles e retornar contornando uma chapada que compõe o vale ao redor da Barragem.


Trecho 3 – Paraíso Perdido-Casarão
Saindo do Paraíso Perdido, continuei em direção as referências demarcadas pelo Pardini. Chegando ao Casarão (um casarão abandonado no meio da trilha) encontrei uma corredeira de água, na qual tive que parar para pegar um pouco de água e tirar algumas fotos.

Como a água desta corredeira é proveniente de nascente, não preciso nem comentar o quanto estava limpa e gelada. As fotos falam por si só.





Trecho 4 – Início da subida da Chapada
A partir deste ponto, acabei saindo da trilha demarcada pelo Pardini e segui sentido a escalada da chapada, trilha essa indicada pelo pessoal do Paraíso Perdido. Aos poucos a trilha foi sumindo e logo me vi em um grande descampado, com muita vegetação rasteira e solo pedregoso.

No início, até que a pedalada estava fluindo bem, porém não sabia o que ainda me esperava. Conforme a inclinação do paredão foi aumentando, as pedras soltas também, e o movimento de pedalar se tornou praticamente impossível.

A partir deste ponto, imaginei: ou é escaldar e tentar sair do outro lado do vale, ou voltar os vinte e poucos quilômetros que já tinha pedalado. Bike nas costas, comecei o trecho de ciclo escalada hehe...
Chegando ao topo da primeira etapa da chapada, percorri alguns trechos pedaláveis e segui sentido ao topo principal. O que era para ser um pedal de reconhecimento, se transformou em um Pedal de Corvo total...
Mais uma vez, bike nas costas e morro acima. Depois de mais ou menos uns 15 minutos, finalmente cheguei ao topo desta chapada. A vista simplesmente era deslumbrante. Consegui ver o reservatório, a Barragem, o acampamento de Furnas e a cidade de São José da Barra.

Todo o esforço dedicado até ali foi totalmente recompensado. Parei para tomar um pouco de água e recompor as energias para iniciar a descida. E que descida. Todas aquelas pedras soltas que encontrei na escalada, também estavam presentes na descida. Aos poucos, fui procurando pequenas trilhas que me levassem até ao pé desta chapada, para encontrar o caminho de volta. Descida completada, encontrei novamente o estradão que tinha utilizado para acesso até o Paraíso Perdido.
Depois, foi só me hidratar bem e fazer o caminho inverso. Já eram quase um hora da tarde e estava novamente atravessando o Quebra Anzol e seguindo rumo a Barragem. Ao chegar ao topo da Barragem, chegando novamente a Furnas, uma surpresa: minha corrente havia quebrado. Como já estava chegando, desci o ladeirão de acesso a Barragem e terminei o trajeto empurrando a bike.
Foi isso pessoal, mais ou menos 40 km de trilha com muita subida, pedra solta e uma ciclo escalada.
Gostaria de agradecer a ajuda e apoio do Pardini, que nos apresentou a região com um mapa show de bola e ao meu primo Fernando, pelas dicas e pela parceria que nos fez durante o primeiro trecho da trilha. Pena não ter pedalado o trajeto todo, porém oportunidades não irão faltar.
À tarde, juntamos toda a família e fomos rodar de carro mesmo por mais alguns locais da região. Simplesmente maravilhoso.

Texto e Fotos: Rodrigo Damaceno

Viagem realizada em Abril de 2007

Nenhum comentário:

Postar um comentário